ESQUECER TAMBÉM É NORMAL
Lembrar
disso, lembrar daquilo... Nosso cotidiano está cheio de informações que
temos que gravar para conseguir realizar as nossas tarefas de uma
maneira eficaz, como lembrar a senha do banco ou do nosso e-mail, por
exemplo. Mas é normal esquecermos algumas ou várias informações.
Esquecer também é normal, entenda o por que.
Nosso cérebro guarda uma imensa quantidade de lembranças acumuladas
com as experiências da vida. São lembranças que abrangem desde
vivências profundas ─ quem sou eu, e como cheguei aqui? ─ às mais
triviais ─ a placa de um carro que acabei de ver num sinal de trânsito.
Além disso, nossas lembranças também variam muito em termos de
exatidão. As “imprecisões” de nossa memória podem muitas vezes ser
simplesmente tão importantes em nossa vida diária como a capacidade de
lembrar em primeiro lugar de uma grande quantidade de informações.
Nas últimas décadas a psicologia cognitiva determinou que existem
dois sistemas de memória primária na mente humana: a memória a curto
prazo, ou “de trabalho”, que guarda informações temporariamente apenas
sobre algumas coisas em que estamos pensando no momento, e a memória de
longa-duração capaz de armazenar grande quantidade de informações sobre
experiências adquiridas durante toda a vida.
Esses dois sistemas também são considerados diferentes em relação a
detalhes que oferecem: a memória de trabalho fornece minúcias sobre
coisas específicas de lembranças recentes, enquanto a memória de longo
prazo dá uma imagem mais imprecisa sobre uma quantidade de coisas
diferentes que vimos ou vivenciamos. Embora possamos manter uma
quantidade de lembranças na memória de longo prazo, os detalhes nem
sempre são nítidos e muitas vezes ficam restritos ao ponto essencial
daquilo que vimos ou que aconteceu
Um estudo recentemente publicado por Timothy F. Brady,
neurocientista cognitivo do Massachusetts Institute of Technology, e
colegas sugere que essas lembranças de longo prazo podem não ser tão
vagas como se pensava. Os pesquisadores pediram que participantes
tentassem se lembrar de 3 mil figuras de objetos comuns ─ como mochilas,
telefones e torradeiras ─ que foram apresentados um a um por apenas
alguns segundos.
No final da fase de visualização os pesquisadores testaram a
memória dos participantes mostrando-lhes dois objetos e perguntando-lhes
qual dos dois haviam visto antes. Como era esperado, os participantes
se saíram excepcionalmente bem (mais de 90% de acerto) mesmo com
milhares de objetos para lembrar. Esse alto índice de sucesso atesta a
enorme capacidade de armazenamento da memória de longo prazo.
O que mais surpreendeu, no entanto, foi o impressionante nível de
detalhes que os participantes guardaram de todas as imagens. Os
participantes conseguiam lembrar, com a mesma clareza, de diferenças
entre duas imagens do mesmo objeto, apesar dos detalhes sutis, como
torradeiras com fatias de pão ligeiramente diferentes.
Esse trabalho mostra que a enorme quantidade de informações que
guardamos na memória de longo-prazo não é tão imprecisa. Esse resultado
também suscita uma pergunta óbvia: Se nossas lembranças não são tão
vagas, por que esquecemos detalhes de coisas que queremos lembrar?
Uma explicação é que, apesar de o cérebro conter representações
detalhadas de muitos eventos e objetos diferentes, nem sempre podemos
encontrar as informações que desejamos. Se virmos um objeto, somos quase
sempre capazes de dizer com precisão e riqueza de detalhes se já o
vimos antes. Se estivermos em uma loja de brinquedos e tentarmos lembrar
o que agradaria nosso filho como presente de aniversário,
voluntariamente precisamos fazer um esforço para buscar a resposta certa
em nossa memória. Parece que este mecanismo de busca voluntária é que
está sujeito à interferência que induzem ao esquecimento.
Fonte: Edward K.Vogel e Trafton Dre
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