Dia 25 de outubro dia do Sapateiro, uma das profissões mais antigas de que se tem notícia. O Portal do Mundo do Trabalho conversou com José Carlos Guedes, presidente da CNTV/CUT - Confederação Nacional Dos Trabalhadores nas Indústrias Têxtil, Couro, Calçados e Vestuário da Central Única dos Trabalhadores, que falou da data e sobre alguns desafios do setor.
Portal: Por que o 25 de outubro ficou conhecido como o Dia do Sapateiro?
SECOM/CUT
Guedes, presidente da CNTVGuedes: Por volta do ano 280, os irmãos Crispim e Crispiniano, que eram patricíos, ou seja, pertenciam à classe rica daquela época, se converteram ao Cristianismo. Foram perseguidos pelos governantes e tiveram que sair de Roma. Foram para Gália e lá se estabeleceram. Fizeram voto de pobreza, distribuíam suas riquezas e passaram a trabalhar como sapateiros, além de estarem sempre envolvidos com atividades sociais. Um conto diz que certo dia, fugindo do imperador, passaram a noite na casa de uma senhora e no dia seguinte, quando já tinham ido embora, ela percebeu que tinham deixado um sapato cheio de moedas de ouro. Alguns acreditaram que foi um milagre. Eu já acho que eles tinham muito dinheiro e resolveram deixar um pouco lá, já que tinham feito voto de pobreza.
Por conta da perseguição, foram assassinados. Dizem que foram capturados e amarrados numa pedra e jogados no rio, mas que tinham conseguido sobreviver. Quando descobriram foram presos novamente e em seguida decaptados. Após mil anos, por volta de 1.300, o Cristianismo tomou conta de Roma e um bispo recuperou as vestes dos irmãos e criou uma Igreja em homenagem a eles. Foi então convencionado o Dia 25 de outubro como o Dia do Sapateiro, em homenagem a São Crispim.
No Brasil, em Franca, São Paulo, que é o grande pólo produtivo calçadista, existe uma capela dedicada ao São Crispim e no país, é a unica cidade que os operários conquistaram como sendo feriado. É um dia de luta onde os operários fazem uma reflexão sobre a sua situação mas também é um dia de lazer, de festa que reune milhares de sapateiros e é bastante tradicional. Nos locais onde os sapateiros têm um peso tem uma repercussão maior. Em Jaú, por exemplo, teve uma bela festa no Clube dos sapateiros.
Portal: Hoje no Brasil, os sapateiros/as, como são popularmente chamados no meio sindical os trabalhadores/as na indústria de calçados, somam cerca 400 mil, segundo dados do IBGE. Qual é o atual perfil desta categoria?
Guedes: Maioria de jovens e mulheres. No passado antes da abertura do mercado brasileiro era um setor muito grande e reunia muitos operários jovens e mulheres. Hoje em dia ele continua com as mulheres como maioria. Teve uma redução muito grande no setor, mas ainda tem uma quantidade razoável de jovens. Já não é como antigamente até por conta do setor de tênis, onde muitos foram demitidos. A industrialização de tênis no Brasil foi quase extinta por conta dos importados e atingiu muito o setor, reduzindo um pouco o número de jovens.
Portal: Qual a jornada média de trabalho da categoria?
Guedes: A jornada esta entre 44 e 50 horas, porque é bastante comum a hora extraordinária no setor.
Portal: A redução da jornada de trabalho está sendo debatida entre os trabalhadores?
Guedes: É um debate que a gente tem feito inclusive junto com a questão do banco de horas, e temos algumas vitórias nessa questão. Na maioria dos estados conseguimos excluir o banco de horas, que é uma forma de você fazer hora extra sem remunera. O debate é uma bandeira histórica e temos trabalhado ao longo dos anos. Os trabalhadores concordam com a redução da jornada, acham que está certa essa bandeira, mas no setor ainda faltam condições objetivas para conquistá-las.
Portal: E quanto à qualificação profissional?
Guedes: A qualificação é uma grande questão. Os empresários no Brasil no segmento calçadista sempre foram muito acomodados, sempre tiveram uma grande produção nacional e um mercado externo sempre foi uma maravilha, com exportações crescendo. Hoje nós passamos dos 800 milhões de pares, embora ainda exista uma grande choradeira do setor patronal em relação com a concorrência da China, mas por outro lado eles também não se modernizaram. Da abertura do mercado pra cá, eles vêm perdendo terreno na área dos calçados, especialmente nos mais simples, sem muita criação, enquanto eles podiam estar investindo num produto com um maior valor agregado. Esses empresários poderiam qualificar melhor o operário investindo num calçado de maior qualidade.
No mercado externo, o calçado fino brasileiro vem crescendo, passa de 100% ao ano. É um mercado que está crescendo, mas precisa de investimento em qualidade, em um produto melhor, investir no trabalhador. Uma grande saída é chamar os velhos sapateiros, tentar fazer novamente ou formar uma nova categoria de jovens sapateiros para produzir um produto melhor, porque esses calçados mais simples tem uma concorrência muito forte da China e fica muito difícil competir no mercado externo.
Portal: O processo de mecanização e novas tecnologias têm gerado desemprego no setor há alguns anos. Quais os principais desafios da categoria para o próximo período?
Guedes: Temos aí uma grande luta que se soma a todos os trabalhadores e trabalhadoras que é a questão da terceirização. É um problema sério para os sapateiros e para o ramo com um todo. A terceirização tirou muito emprego, muito operário de dentro da fábrica que tinha seu trabalho formal e agora o leva pra casa ou pequenas oficinas. Em cada lugar tem um nome, no Ceará eles chamam de "biroska", em São Paulo é oficina, no Sul é ateliê, mas o fato é que é uma terceirização, na maioria dos casos, precariza as relações de trabalho e tira muitos operários de dentro da fábrica.
Aqui em São Paulo, por exemplo, o Sindicato informou que há alguns anos desapareceu a função das costureiras no setor de calçados e os desmontadores foram quase extintos de dentro das fábricas. Claro que eles estão por aí. Estão trabalhando nas casas, nas residências e em algumas oficinas. Até o setor de solado, há um tempo atrás, também teve um certo desaparecimento. Não temos mecanismos de controle para isso. As empresas não são obrigadas a dizer para onde estão mandando esses profissionais. A própria indústria corta o material e manda para fazer o desmonte externo. Muitos ganham por pares produzidos, e em muitos casos os salários são reduzidos e sem benefícios, e que dirá registro em carteira!
Portal: Há uma predominância de mulheres trabalhadoras nas indústrias de calçados. Ainda existe diferença entre os salários de mulheres e homens no setor?
Há uns dois anos atrás, eu como presidente dos sapateiros da capital (SP), travamos uma árdua batalha colocar a equiparação salarial na Convenção Coletiva, mas sabemos que isso não basta. Não adianta colocar no acordo que não pode haver discriminação porque a realidade das fábricas infelizmente é outra. O importante, e é o que a CNTV tem feito, é insistir no debate com a base, para que a própria categoria não aceite a diferenciação salarial para a mesma função.
Nosso objetivo é despertar esta consciência, de que só a Convenção não adianta e de que é preciso ação dos próprios trabalhadores para que esta realidade mude. É uma questão de condições de trabalho. A gente tem uma cláusula aqui na convenção de São Paulo que fala da questão da proporcionalidade em relação às funções. Ela busca que as empresas distribuam as chefias proporcionalmente, para garantir que as mulheres ocupem estes espaços. A CNTV e seus sindicatos continuarão a lutar pelo fim da discriminação.
Fonte: www.cut.org.br
Dia do Sapateiro
25 de Outubro
O ofício de sapateiro é muito antigo e de início era discriminado, comparado ao ofício de curtidores e carniceiros. O cristianismo fez com que essa situação se reverte-se com o surgimento de três santos sapateiros: Aniano, sucessor de São Marcos como arcebispo de Alexandria (século I), e os irmãos Crispim e Crispiniano, martirizados em Saisson sob Domiciano.Por muito tempo, os sapateiro continuaram trabalhando de forma atesanal. O início da uniformização e da padronização começou na Inglaterra, quando em 1305, o rei Eduardo I estabeleceu medidas uniformizadas e padronizadas para a produção de sapatos.
O Rei decretou que uma polegada fosse considerada como a medida de três grãos secos de cevada, colocados lado a lado. Os sapateiros da época compraram a idéia e passaram a fabricar seus calçados seguindo as medidas do rei. Assim, um par de sapatos para criança que medisse treze grãos de cevada, passou a receber o tamanho treze.
A partir daí a padronização tornou-se uma tendência mundial. Na idade moderna, surgem e crescem o número de indústrias produtoras de sapatos. Hoje, os sapateiros artesanais têm que disputar com as grandes indústrias de calçados ou trabalham apenas com concertos.
O primeiro sapato - O primeiro calçado foi registrado na história do Egito, por volta de 2000 a 3000 a.C.. Trata-se de uma sandália, composta por duas partes, uma base, formada por tranças de cordas de raízes como, cânhamo ou capim, e uma alça presa aos lados, passando sobre o peito do pé.
Fonte: UFGNet
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